Arte na Semana Santa: FAOP atua na preservação da tradição dos Tapetes Devocionais
Pelo
segundo ano consecutivo, a cidade não realizará a celebração da Semana Santa
nas ruas, mas a fundação relembra o costume
Além do simbolismo
religioso, a montagem dos tapetes devocionais em Ouro Preto movimenta a
comunidade e representa um dos Patrimônios Imateriais da cidade. Passar a noite
do Sábado de Aleluia montando tapetes no chão das históricas ruas da antiga
Vila Rica, tornou-se algo muito importante. A tradição é apreciada pelos
turistas e moradores, mantida pela Fundação de Arte de Ouro Preto, em
colaboração com a comunidade, e apoiada pelas paróquias e pela Secretaria
Municipal de Cultura.
A confecção dos tapetes é
uma forma de expressão artística e cultural. Por compreender isso, a FAOP
entende que é fundamental conservar e aprimorar a tradição com os professores,
alunos e comunidade. Os moradores, além de auxiliarem na montagem, também
enfeitam suas casas, janelas e fachadas, com imagens e tecidos. Na fundação, já
foram oferecidos cursos, oficinas, ensaios, encontros, palestras e ações de
extensão, além do auxílio técnico nas montagens.
Para produção dos tapetes
são usados vários materiais, entre eles serragem crua e colorida, farinha de
trigo, pó de café, casca de arroz e cal. Já as técnicas de montagem são
variadas, tem quem prefira criar um desenho livre, mas há também a
possibilidade dos esboços sobre papel e do uso de formas de madeira, ferro ou
papelão, muito aproveitadas para figuras mais elaboradas. Os desenhos remetem a
imagens religiosas, mas também ao cotidiano de Ouro Preto.
César Teixeira, professor na
fundação e orientador das ações de apoio técnico na montagem, explica que a comunidade é a principal
responsável pela criação dos desenhos, através dos grupos de vizinhança e com a
ajuda de visitantes e turistas que chegam na cidade para a Semana Santa.
Tapetes
devocionais de OP já passaram por várias cidades
Apesar de ser sua ideia inicial, o trabalho da FAOP na criação e montagem dos tapetes, não se restringe apenas à Semana Santa de Ouro Preto. O reconhecimento das técnicas e expressão artística já levou os tapetes a outras cidades mineiras como Viçosa (MG), em 2013, que recebeu também oficinas de montagem.
Os tapetes também chegaram
ao Rio de Janeiro, em uma exposição na Galeria Cândido Portinari da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro|UERJ e até em outro país, quando a
manifestação foi levada para a região de Nord-Pas de Calais, na França. Na
ocasião, a equipe da FAOP foi a única representante da América Latina a
participar do Mine d’Art en Sentier, evento que ocorreu em 2012.
Manifestação
será adaptada por conta do coronavírus
No ano passado, já em
isolamento social devido à pandemia da Covid-19, a iniciativa foi convidar a
população a compartilhar registros da Semana Santa de anos anteriores e
enfeitar suas fachadas. Esse ano a FAOP precisou adaptar novamente as ações
para respeitar as normas de segurança, sem deixar de celebrar a tradição.
A fundação já participou da
criação e montagem de tapetes na Casa de Tomás Antônio Gonzaga e de outros
projetos na cidade de Lavras Novas (MG). No sábado de aleluia (03 de abril),
outro tapete será montado na Praça Tiradentes. Nas redes sociais, as atividades
com os tapetes estão sendo relembradas a partir da postagem de fotos e vídeos.
A presidente da fundação,
Júlia Mitraud, acredita que é essencial incentivar essa manifestação popular durante
a quarentena. “A confecção de tapetes devocionais é uma significativa expressão
religiosa, cultural e artística da nossa cidade. Como instituição que fomenta
essas manifestações, a FAOP se orgulha do seu papel na preservação e divulgação
dessa tradição. Estamos vivendo dias muito desafiadores por conta da pandemia e
acredito que acompanhar a montagem do tapete devocional, ainda que de forma
online, leve um pouco de felicidade, boas recordações e esperança para a
população ouro-pretana.”
Origens
da tradição
O costume de enfeitar as
ruas para a passagem de cortejos religiosos já é comum no catolicismo, e remete
à entrada de Cristo em Jerusalém, quando a população cobre as ruas em ramos. No
entanto, acredita-se que a tradição ouro-pretana foi inspirada pela
reinauguração da matriz do Pilar, no ano de 1733, quando as ruas entre a Igreja
do Rosário e a Matriz do Pilar foram cobertas de flores e folhagens.
Mais de dois séculos depois,
em 1963, Nossa Senhora do Pilar foi
escolhida a padroeira de Ouro Preto, e assim os tapetes voltaram a ser feitos
para relembrar a antiga comemoração.
No início da década de 70, a
FAOP convocou pela primeira vez seus professores a comunidade para retomarem o
costume, reintegrando essa prática à comemoração da Semana Santa. Desde então,
a montagem de tapetes devocionais foi incorporada ao rico calendário de
manifestações culturais da cidade.