O Curso de Bordado da FAOP e sua importância para a comunidade
O curso "Bordado:
Criação e Arte" do Núcleo de Arte e Ofícios possibilita o desenvolvimento
de habilidades, a
produção artística e o convívio social
O
bordado, na Fundação de Arte de Ouro Preto| FAOP, teve suas origens há quinze
anos, quando o então Núcleo de Arte inaugurou o curso "55+Arte" com o
objetivo de desenvolver diversas expressões artísticas com mulheres a partir dos 55 anos
de idade, desde colagens com papel a trabalhos com costura. O bordado ganhou destaque entre as turmas, e com o passar do tempo, tornou-se
o foco exclusivo do curso.
Em uma
descrição simples, o bordado é a arte de decorar utilizando linhas e agulha,
mas para as participantes do curso, ou melhor, para as “bordadeiras da FAOP”,
como são conhecidas, o aprendizado e prática dessas técnicas representam além do
desenvolvimento de habilidades, a possibilidade também de desenvolver processos
criativos e autorais. As aulas envolvem pesquisas, o resgate de referências
afetivas e culturais, e, de uma forma muito especial, a oportunidade de
convívio e ricas interações sociais.
Muito
além de linhas e agulhas: curso oferece interações e novas experiências
Ana Célia Teixeira, responsável
por conduzir o curso desde seu início, explica que além das aulas teóricas-práticas, que instruem sobre
técnicas e apresentam referências de artistas
bordadores, o curso também oferece visitas orientadas a museus e exposições, bem como excursões para pesquisa,
atividade que faz sucesso entre as alunas. “Esses momentos são sempre marcantes
para elas, principalmente para aquelas que não tinham oportunidade de conhecer
esses locais, que ampliam o olhar para a arte”, afirma a professora.
Maria do Carmo, aluna
do curso há vários anos, conta que adora esses passeios. Ela já tinha costume
de visitar espaços culturais, principalmente por ter sido professora, mas
confessa que as excursões com a turma de amigas são muito diferentes. “Além das
exposições, já fizemos visitas a outras cidades e distritos, por exemplo, a Santo
Antônio do Leite, quando aproveitamos pra passar a tarde chupando jabuticaba,
conversando sobre a vida, uma experiência fantástica”, relata.
O grupo costuma se
encontrar uma vez por semana, mas as poucas horas de convívio as fazem se
sentir próximas umas das outras, construindo uma rede de apoio, não só para os
aprendizados em bordado, mas também para as questões pessoais. Conceição
Romualdo participa do curso há cerca de 12 anos e afirma que as aulas são importantes
para ela, que é por meio delas que tem suas principais interações, por não ter
o costume de sair para outros locais. O curso também ajuda Conceição a se
recuperar da depressão e a expressar seus sentimentos: “O bordado é muito importante,
me deu oportunidade de fazer um trabalho autoral, onde consegui expressar todo
o meu passado, as minhas dores, frustrações e alegrias. Eu tenho dificuldade de
me expressar pela fala, e através do desenho e do bordado eu consegui”,
declara.
Alunas
expõem obras em exposição final aberta ao público
Depois de
todo um semestre de estudo e prática, acerca de um tema escolhido
coletivamente, as alunas reúnem seus trabalhos para uma exposição final aberta
ao público, onde a comunidade pode conhecer e apreciar as expressões artísticas
individuais e na maioria das vezes, coletiva. “Paisagens de Guignard", “A
Estrada Real” e “Os pássaros brasileiros” e “Vida e obra de Nello Nuno” foram alguns dos temas já explorados pelas
turmas.
Por outro viés,
individualmente, como artista, a aluna Conceição Romualdo vem apresentando a série
"A menina do cabelo de flores”, e explica que, apesar das
dificuldades de estar em público, adora as exposições pelo carinho e
reconhecimento que recebe. “Teve um pessoal de São Paulo que conheceu meu
trabalho na exposição, me deixou uma carta, e nos falamos até hoje. Também já
enviei obras minhas pra Alemanha, Suíça e outras cidades”, revela a bordadeira,
orgulhosa de seus feitos.
Curso
é aliado do bem-estar das bordadeiras da FAOP durante quarentena
Durante o
período de pandemia do coronavírus as atividades continuaram, de forma
adaptada, orientadas pela professora Ana Célia. A aluna Júlia Loreto conta que
praticamente todos os trabalhos estão prontos e que o bordado está tornando o
isolamento algo mais leve, "acho que as colegas também pensam assim. O
ruim é a gente não poder se encontrar, para os momentos de alegria e
descontração”, explica. As orientações e questionamentos estão sendo realizados
através de um grupo no WhatsApp, onde também são compartilhadas referências e
ideias para trabalhos visando uma próxima exposição, que talvez aconteça no
segundo semestre de 2021.
A
presidente da Fundação, Júlia Mitraud, ressalta a importância do curso e a
felicidade na continuação das atividades à distância durante a pandemia: “É
motivo de muito orgulho para todos nós que fazemos parte da instituição,
saber que os bordados continuam fazendo a diferença na vida dessas mulheres,
mesmo com as limitações, físicas e técnicas impostas pelo momento”.
Por
conta da necessidade de isolamento social – ainda mais para a faixa etária da
maioria das alunas, embora, hoje, o curso seja aberto a pessoas a partir de 18
anos e de ambos os sexos – ainda não existe previsão para o início de novas
turmas, mas a FAOP estuda alternativas e é possível que isso aconteça no
próximo semestre.