Tapetes de rua nas festas de Ouro Preto
por Angelo Oswaldo de Araújo, Secretário de Cultura de Minas Gerais
A tradição dos tapetes florais de rua vem de Portugal. É um costume muito antigo esse da ornamentação das fachadas e ruas em momentos importantes da vida civil e religiosa. Foi bastante valorizado na Europa, desde a Idade Média, quando se instituiu a festa de Corpus Christi, para celebrar o que na Quinta-Feira Santa não podia ser exaltado, em virtude da morte próxima do Cristo. A ornamentação das ruas está mais ligada ao Corpus Christi do que à Semana Santa, mas tornou-se recorrente nos domingos de Páscoa.
Em documentos do século XVIII, fartamente menciona-se sobretudo o pagamento pela Câmara de Vila Rica de luminárias nas ruas principais para determinada comemoração. Isto é, a Câmara pagava as lâmpadas de óleo ou velas acesas nas fachadas. Colocavam-se rendas e alfaias nas sacadas e balcões nos dias festivos, especialmente para as procissões.
As ruas eram também ornamentadas com arcos de triunfo, trazendo inscrições latinas e geralmente anjos esvoaçantes. Nos livros Triunfo Eucarístico (1734) e Áureo Trono Episcopal (1749), há referências a essas ornamentações. Registra-se uma grande festa em Diamantina, no começo do século XIX, para comemoração do ferro fabricado em Morro do Pilar, com vários arcos de triunfo sob os quais passou o cortejo com os carros trazendo os lingotes.
Com a criação da FAOP, em 1969, o presidente da entidade, o escritor Murilo Rubião, decidiu resgatar e valorizar tradições de Ouro Preto. Assim, a FAOP lançou o concurso de balcões floridos, para o qual mandou confeccionar e distribuir suportes de ferro para ostentar vasos de flores nos balcões e sacadas do centro da cidade. Em seguida, veio o concurso de pipas e papagaios, no Morro da Forca, outra tradição que seria retomada sempre em agosto, considerado o mês mais ventoso do ano.
Para a Semana Santa, a proposta foi a retomada dos tapetes, com apoio total à sua confecção. Antes, algumas famílias enfeitavam a rua, à frente de suas casas, com pétalas de flores, ramos de cipreste, papel picado e folhas perfumadas. A coroação pontifícia de Nossa Senhora do Pilar, como padroeira de Ouro Preto, em 1963, ensejou a realização de uma grande procissão, com as ruas intensamente ornamentadas. A partir de 1970, a FAOP providenciou a distribuição de sacos de material para a confecção de tapetes e incentivou os moradores à tarefa. Recorreu aos cortumes de Itabirito, ganhando sacos de rapa de couro, e às serrarias, recolhendo serragem, além de coletar borra de café, papel picado, areia fina e outros materiais. A fundação se responsabilizava pelo tingimento dos materiais, seu ensacamento e distribuição. A Prefeitura colaborava. No governo do prefeito Alberto Caram, sendo Angelo Oswaldo o secretário de Cultura e Turismo, foram distribuídas lanternas à maneira colonial, manufaturadas pelo artesão José Petinatti, para a volta da iluminação a velas nas fachadas durante a Semana Santa. Em 1982, um grande arco de triunfo, na praça Tiradentes, homenageou a Senhora do Pilar e a Imaculada Conceição, vistas em medalhões voltados para os bairros das respectivas padroeiras.
A FAOP mandou confeccionar vestimentas para a Guarda Romana, com desenho baseado nos Soldados dos Passos do Aleijadinho em Congonhas. Mas os Guardas, tanto da Paróquia do Pilar quanto da Paróquia de Antônio Dias, não gostaram da roupa e aos poucos a descartaram.
Com o passar dos anos, fixou-se, modernamente portanto, o hábito de se confeccionarem os tapetes na Semana Santa, o que atrai dezenas de turistas, que chegam a Ouro Preto já dispostos ao trabalho na noite de sábado para Domingo de Páscoa. Pode-se assim dizer que se trata de uma tradição estabelecida a partir de 1970, graças à FAOP. Tapetes de serragem, desenhados por artistas ligados à FAOP, têm sido montados por ocasião de diversos eventos culturais, até em cidades do exterior.