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Faop relembra monumentos históricos no Dia Mundial da Arquitetura

No Dia Mundial da Arquitetura (01/07), gostaríamos de destacar as sedes da Faop, instaladas em casarões históricos que foram residência de personalidades importantes da história do Brasil. Em Ouro Preto, essa convivência estimula o diálogo entre passado e presente nos detalhes arquitetônicos. Os casarões, erguidos entre os séculos XVIII e XIX com técnicas tradicionais, como alvenaria de pedra, taipa de pilão e madeira, exibem fachadas robustas, arcos e estruturas características do barroco mineiro.

No bairro Antônio Dias, a sede do  Núcleo de Artes e Ofícios fica em um casarão do século XIX, da família do presidente Pedro Aleixo, onde também viveu o pintor Alberto da Veiga Guignard. A edificação abriga hoje o Memorial Pedro Aleixo, com ateliês multimateriais, sala de música e multimídia, destinados à formação artística e ao exercício da criatividade.

No Rosário, fica o Laboratório de Conservação e Restauração Jair Afonso Inácio (LABCOR) e a  galeria de arte Nello Nuno. A galeria leva o nome do pintor mineiro que foi cofundador da Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade. Sua obra se destaca no contexto da arte brasileira do século XX. O espaço é palco para exposições e debates sobre o patrimônio cultural e as artes visuais, contribuindo para o diálogo entre tradição e contemporaneidade.

No bairro Cabeças está localizada a casa Bernardo Guimarães que abriga a sede administrativa da Faop, o Núcleo responsável pelo Curso Técnico em Conservação e Restauro, a Biblioteca Murilo Rubião e o Auditório Vinícius de Moraes. Originalmente de uso residencial, onde viveu o escritor das obras “A Escrava Isaura”  e “O Seminarista”, o edifício passou, em 1955, para a Sociedade São Vicente de Paulo, que o adaptou para funcionar como o Abrigo da Velhice Desamparada, conhecido popularmente como Asilo dos Velhos. Em 2003, a propriedade foi cedida ao Governo de Minas Gerais e, no ano seguinte, passou à administração da Faop. A readaptação do imóvel, com respeito à sua arquitetura original, garantiu funcionalidade contemporânea sem descaracterizar sua estrutura histórica.

Casa Bernardo Guimarães: arquitetura e memória

Período de obras da Casa Bernardo Guimarães. Foto:Dimas Guedes | Cadernos de Ofícios 1 – Casa Bernardo Guimarães

A restauração da Casa Bernardo Guimarães, concluída em 2006, transformou o antigo casarão oitocentista em um espaço arquitetônico que hoje mistura  a memória material e o fazer contemporâneo, para sediar a Fundação. O imóvel é um centro de formação que alia educação técnica e preservação patrimonial.

O projeto arquitetônico, conduzido pelos arquitetos Paulo Hermínio Guimarães e Miguel Ângelo Capobianco, com recursos do programa Minas Avança e execução do DEOP/MG, foi guiado pela premissa de conservar os elementos originais da edificação e, ao mesmo tempo, adaptá-la às novas funções institucionais. O núcleo formativo que ali se desenvolve representa a continuidade dos saberes tradicionais em diálogo com as técnicas modernas de conservação.

Casa Bernardo Guimarães antes da restauração. Foto:Dimas Guedes | Cadernos de Ofícios 1 – Casa Bernardo Guimarães

A intervenção garantiu a recuperação de aspectos essenciais da arquitetura do casarão, como a alvenaria de pedra, o forro tradicional, as esquadrias de madeira e o pátio central. O projeto também suprimiu anexos que descaracterizavam o conjunto, restituindo a leitura volumétrica da edificação principal e reintegrando o espaço livre como área de convívio e circulação.

A Casa foi adaptada para receber novas funções educativas e administrativas, como salas de aula, biblioteca, auditório e áreas de apoio ao curso técnico. Nos anexos, os ambientes foram reorganizados com varandas abertas e reconfiguração de esquadrias, otimizando ventilação e iluminação naturais. A preocupação com o conforto e a funcionalidade não comprometeu o caráter histórico do imóvel — ao contrário, reforçou sua vocação pública e cultural.

Entre os acréscimos, destacam-se a requalificação do terraço com estrutura leve e a modernização das esquadrias e pisos. Esses elementos foram projetados com sensibilidade arquitetônica, respeitando a linguagem do casarão sem mimetismos. Um achado arqueológico durante as obras, um sistema antigo de escoamento de água, foi preservado e mantido visível, agregando valor interpretativo ao espaço.

Ao sediar o curso técnico em Conservação e Restauro, a Casa Bernardo Guimarães se consolida como um espaço em que a arquitetura não é apenas contemplada, mas exercitada. A formação prática oferecida ali prepara profissionais conscientes do valor da preservação e aptos a intervir em edificações históricas com conhecimento técnico e responsabilidade cultural.

Em 2025, quase duas décadas após sua restauração, a Casa Bernardo Guimarães segue sendo um exemplo bem-sucedido de reuso patrimonial, onde a arquitetura educa e transforma. 

Informações sobre o processo da obra retiradas do “Cadernos de Ofícios 1 – Casa Bernardo Guimarães” (2008)