FAOP comemora participação na história da Conservação e Restauração no país

No dia 27 de janeiro comemorou-se o Dia Internacional do Conservador Restaurador. A data corresponde ao nascimento do francês Eugène Viollet-le-Duc, um dos primeiros teóricos da preservação do patrimônio histórico. A Fundação de Arte de Ouro Preto|FAOP já foi e ainda é casa para muitos profissionais e estudantes da área, e reconhece a importância da profissão para a recuperação, preservação e valorização, não apenas de obras e peças em suas formas físicas, mas principalmente para a história e memória de uma comunidade, cidade, estado ou país. 


Quando se pensa em obras de arte, o que rapidamente surge na mente é a ideia da sua criação e seu processo de produção, o verdadeiro “mão na massa”. Mas o que muitos não lembram, é que peças se desgastam com o tempo e que para tratar desse aspecto existe um profissional responsável, capacitado exatamente para cuidar do patrimônio: o Restaurador. 


A história da Fundação de Arte de Ouro Preto|FAOP se mistura com a da restauração no Brasil. A instituição promoveu em 1970, com o restaurador Jair Afonso Inácio, o primeiro curso regulamentado para a formação desses profissionais  no país. Esse curso foi base para que hoje exista o atual Curso Técnico em Conservação e Restauro, que se tornou referência internacional no processo de restauração de bens culturais móveis nas áreas de papel, escultura policromada e pintura de cavalete. Para Ludmila Ribeiro, que concluiu sua formação na FAOP em 2013 através do curso técnico, estudar conservação e restauração é muito prazeroso e exige paciência e dedicação. “Passamos por diversas áreas como história, química, projetos, cor... e cada uma delas é crucial para se tornar um bom profissional, e também para amar esse universo”, relata a ex-aluna. 


Roberta Silva, que também foi aluna do curso e hoje é técnica em restauro na própria instituição, declara que já nas primeiras aulas se encantou completamente pela profissão: “Minha primeira formação foi em Administração, mas eu não me identificava. Quando eu fui pra Ouro Preto, buscava algo que eu amasse fazer, e então encontrei a FAOP e nunca mais saí do meio”.


A formação tem duração de dois anos e seis meses e é aberta a todos os interessados na área, através de um processo seletivo realizado semestralmente. No período de pandemia, foram ofertadas aulas teóricas de forma remota, e essas continuarão sendo disponibilizadas a partir de fevereiro de 2021. Já para novos alunos, a previsão é que um novo processo seletivo aconteça no segundo semestre deste ano. 


O programa de ensino integra o Núcleo de Conservação e Restauração, que para além do curso, conta com uma equipe técnica que realiza consultoria, diagnósticos e projetos de conservação e restauração. Tais serviços podem ser realizados  apenas pelo corpo técnico, porém, para proporcionar maior vivência e experiência na formação, na maioria das vezes é executado juntamente com alunos do curso. Para Elisa Diniz, técnica do núcleo, o dia de entrega de uma obra restaurada é motivo de muito orgulho. “É muito gratificante ver o sorriso e a alegria das pessoas ao ver o resultado final do trabalho e a volta da obra para casa. Essa casa pode ser uma igreja, um museu...independe, sempre é muito gratificante!” , afirma.



O LABCOR


A FAOP ainda conta, com o Laboratório de Conservação e Restauro Jair Afonso Inácio | Labcor, que presta serviços no campo da restauração de bens integrados móveis e imóveis, de acervos públicos ou particulares, além de laudos técnicos das obras. Bianca Monticelli, coordenadora do Labcor, explica que qualquer pessoa (seja física ou jurídica) pode levar uma obra para ser restaurada no laboratório. “Pode ser desde um simples santinho de sua casa, uma partitura musical até obras maiores, como um forro de uma igreja ou de um casarão antigo”, esclarece a restauradora. 


Inaugurado em 2018, o filho caçula da fundação já se mostrou um importante recurso, tanto para a comunidade, quanto para as paróquias do estado. Bianca relata que percebe o Labcor como uma nova forma de construir vínculos: “Eu acho muito importante a abertura desse ambiente, por funcionar como uma ponte que existe entre a comunidade e a FAOP. Além disso, o laboratório possibilita estágios, o que representa uma oportunidade de aprimorar o conhecimento prático adquirido no curso”, conclui. Luana Santa Maria, estagiária há mais de um ano no Labcor, afirma que para exercer uma profissão tão complexa é muito importante a prática orientada em um estágio.


O Labcor está localizado na Casa do Rosário da FAOP, na Rua Getúlio Vargas, 185, Bairro Rosário, em Ouro Preto. Interessados nos serviços podem entrar em contato pelo telefone (31) 3552-2480 ou e-mail: laboratoriorestauracao@faop.mg.gov.br. 


“A FAOP se sente honrada em fazer parte da construção da história do restauro no país, e se orgulha na contribuição que teve na formação de tantos profissionais. Esperamos que continuemos no caminho de valorização da profissão e ao mesmo tempo na entrega, de um serviço tão importante que é o de resgate do patrimônio de comunidades, assim como da sua identidade e parte da sua memória”, afirma Júlia Mitraud, presidente da fundação.


A valorização da profissão é uma luta de diversos profissionais da área que reivindicam, há muitos anos, uma regulamentação adequada no país. Ao longo de décadas, decretos foram ora aprovados ora vetados, e atualmente um projeto de lei, PL 1183/2019, tramita na Câmara dos Deputados com o objetivo de se instituir uma legislação clara e criteriosa sobre o exercício da profissão, a fim de evitar que pessoas não capacitadas coloquem em risco o patrimônio.

29/01/2021